Projeto
de ensino inovador tem bom exemplo em escola paulista
A ideia é usar a
criatividade para inovar. Por isso, o Ministério da Educação lançou, no início
deste mês, uma página específica na internet sobre inovação e criatividade na
educação básica. Um exemplo clássico de como as unidades de ensino podem
produzir trabalhos interessantes é o da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Presidente Campos Salles, no bairro de Heliópolis, em São Paulo.
Implantado em 2007, o
projeto aboliu métodos convencionais de ensino e transformou a parte física da
instituição. A estrutura tradicional do currículo foi rompida. Em substituição
à aula expositiva de 45 minutos, ministrada por um único professor, os alunos
recebem roteiros de estudo, por meio dos quais desenvolvem aprendizagem
individual e em grupo sobre os mais diferentes campos do conhecimento. Hoje, os
alunos da escola apresentam evolução no desempenho em exames nacionais.
Há ainda atividades
em disciplinas específicas, como matemática, português, ciências e história,
mas os roteiros, interdisciplinares, estimulam o pensamento e a investigação
contextualizada do estudante. A inspiração veio da Escola da Ponte, de
Portugal. “Fizemos diversas reuniões e ouvimos as pessoas”, diz o diretor na
época, Braz Nogueira. “Não adianta nada se a escola não participar da
comunidade; só assim conseguiríamos ter uma nova metodologia de ensino.”
Esse processo de
transformação das relações entre ensino e aprendizagem realizou-se de maneira
abrangente em todo o conjunto escolar e também fisicamente. Paredes foram
derrubadas e, a cada três salas, formou-se um salão. As mesas passaram a ser
coletivas, com grupos de seis alunos. Em vez de um docente por matéria, os
professores compartilham a gestão das salas, cada uma delas acompanhada por
três profissionais. “Além disso, distribuímos chaves para que as entidades
pudessem, aos sábados, domingos e feriados, se apropriar do local”, afirma
Nogueira. “Isso provocou uma forte aproximação com os moradores.”
Dentro dos salões, os
alunos têm autonomia para escolher temas e atividades nos roteiros,
desenvolvidos por professores responsáveis pela área de conhecimento
específica, mas com oferta de acesso a todo o corpo docente, que assim conhece
as competências exigidas e trabalhadas em cada material.
Projeto — A plataforma Inovação e Criatividade na Educação Básica busca
estimular medidas, como a da escola de Heliópolis. “As pessoas não têm notícia
de que é possível organizar uma escola sem as carteiras enfileiradas de frente
para uma lousa, sem as salas de aula, sem os corredores, sem as aulas de 50
minutos”, diz a coordenadora do projeto, Helena Singer. “Elas estudaram assim;
seus filhos, também. Então, é fundamental divulgar novas referências,
organizações que garantam os processos de aprendizado em estruturas que
dialogam mais diretamente com os desafios do século 21.”
O envolvimento dos
estudantes com a realidade local é cada vez maior. Assim, Heliópolis passou a
ser conhecido como bairro educador. A EMEF Presidente Campos Salles, que já foi
chamada de “escola dos favelados”, transformou-se na escola da comunidade.
Uma experiência em
aplicação na escola, a República de Alunos — a organização política é
representada pelos estudantes —, foi apontada pelo ministro da Educação, Renato
Janine Ribeiro, que visitou a instituição de ensino em junho último, como
exemplo de inovação em educação. Desde 2011, é registrada evolução no
desempenho dos estudantes da instituição paulista, tanto em matemática quanto
em português, na Prova Brasil, aplicada em escolas públicas urbanas e rurais
que tenham no mínimo 20 estudantes matriculados no quinto e no nono anos
(quarta e oitava séries) do ensino fundamental.
Ana Cláudia Salomão
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